domingo, 6 de setembro de 2009

E-C

Podemos dizer que nenhum movimento maçônico exerceu maior influência na França no Séc. XVIII que o iniciado por Pasqually, que foi logo conhecido como Martinismo. O nome completo de Martinez era Jaques de Livron Joachim de la Tour de la Case Martinez de Pasquallys. Nasceu em Grenoble, França, provavelmente em 1727. Seu pai nasceu em Alicante, Espanha e este possuía uma patente maçônica outorgada por Charles Stuart, "Rei de Escócia, Irlanda e Inglaterra", com data de 20 de maio de 1738, na qual o nomeava Deputado Grão-Mestre com o poder de fundar Templos à Glória do Grande Arquiteto. Essa patente e os poderes que lhe conferia, foram transmitidas, em sua morte, a seu filho, "o poderoso Mestre Joachim Don Martinez Pasquallys, de 28 anos de idade". Vemos, portanto, que aos 28 anos, Martinez era Mestre Maçom.
Martinez trabalhou durante toda sua vida na criação de um grande movimento espiritualista dentro do marco da Maçonaria. Quando pôde organizar este movimento como Ordem, não maçônica no sentido estrito da palavra, mas composta, exclusivamente, por Maçons, deu-lhe o nome de: "Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus-Cohen do Universo".
A missão espiritual de Pasquallys começou provavelmente ao redor de 1759, mas não há dúvida de que antes desse período, trabalhou ativamente na promoção da Ordem Maçônica como tal. Essa foi a época em que o Alto Grau foi introduzido na Maçonaria, para completar os três graus básicos da Maçonaria Simbólica, ou Azul: Aprendiz, Companheiro e Mestre.
A introdução de graus superiores ("Altos Graus") foi amiúde desaprovada pelas autoridades maçônicas que controlavam os Graus Simbólicos. Martinez mesmo não estava envolvido ativamente em criar graus maçônicos, mas que trabalhava para formar uma espécie de organização colateral que tivesse um caráter mais espiritual que a Maçonaria. Sem embargo, admitia nesta organização somente a Mestres Maçons que houvessem tomado o grau adicional de "Eleito".
Já dissemos que antes de fundar a Ordem dos Elus-Cohen, Pasquallys havia trabalhado dentro do marco da Maçonaria. Assim, em 1754, fundou em Montpellier o capítulo maçônico "Os Juizes Escoceses".
Entre 1755 e 1760 viaja por toda a França, recrutando seguidores para seu próprio sistema. Em 1760, estava em Toulouse onde foi recebido nas Lojas Unidas de São João. Depois, no mesmo ano, foi recebido na Loja "Josué de Foix" onde iniciou vários maçons e formou o capítulo chamado "O Templo Cohen".
Em 1761 estava em Bourdeaux onde, graças a sua Patente Stuart e com a recomendação do Conde de Maillial d'Alzac, do Marquês de Lescourt e dos irmãos d'Auberton, foi recebido na Loja "La Française".
É nesse local que abre seu "Templo Particular" sob o nome de "A Perfeição Escocesa Eleita". Os membros fundadores foram: Conde M. d'Alzac, Marquês de Lescourt, os dois irmãos d'Auberton, de Oasen, de Bobié, Jules Tafar, Morrie e Lecombard. Em 26 de maio de 1763, Pasquallys mostrou sua Patente Stuart à Grande Loja da França e lhes informou do Templo que havia fundado em Bourdeaux, à Glória do Grande Arquiteto, um Templo com cinco graus de Perfeição dos quais era o Depositário sob a Constituição de Charles Stuart, Grão-Mestre de todas as Lojas espargidas pela face da Terra. O nome dessa Loja se mudou, então, à "La Française Elue Ecossaisse". Em 01 de fevereiro de 1765, a Grande Loja da França a aprovou e outorgou patente a essa Loja.
Naquela época a Grande Loja da França não reconhecia os "Altos Graus". Os maçons visitantes foram, portanto, recebidos na forma de Loja Azul nos Templos dos Elus-Cohen (o termo Loja Azul se refere aos três primeiros Graus Simbólicos de Aprendiz, Companheiro e Mestre, que constituíam a Primeira Classe dos Elus-Cohen, sob o nome de Maçonaria de São João).
A Segunda Classe, a dos Graus de Portal, era ainda externamente maçônica, mas continha pontos de uma doutrina secreta subjacente.
A Terceira Classe, formada pelos Graus do Templo, constituía os Altos Graus da Ordem. Utilizava "artilugios" e simbologia maçônica, mas o catecismo estava baseado na Doutrina Geral de Pasquallys. No grau de Grande Arquiteto, idêntico ao do Cavaleiro do Oriente, o membro praticava uma purificação física mediante uma dieta sob a qual se abstinha de alguns tipos de carnes e órgãos de certos animais, algumas gorduras etc. Esta dieta que era altamente seletiva e que não há o que confundir com o estrito vegetarianismo era similar à dieta dos Levitas, prescrita no Antigo Testamento. O "Grande Arquiteto" realizava "operações" dirigidas a expulsar os Poderes da Escuridão que invadiram a Aura da Terra. Colaborava também em espírito com as operações especiais que realizava o Grão-Mestre, Pasquallys. Esse grau de Grande Arquiteto constituía, na prática, o grau de Aprendiz Réaux-Croix.
O Grau Superior de Templo, o de Comendador do Oriente ou Grande Eleito de Zorobabel, é um grau passivo no qual o membro não realiza nenhuma operação. É um período de repouso antes da ordenação na Ordem Sagrada de Réau-Croix. O ensinamento se baseia na lenda de Zorobabel e nele se menciona a Ponte misteriosa que deve ser cruzada pelo candidato aos Mistérios. A palavra Réau-Croix não deve ser confundida com "Rose-Croix" e não tem nada que ver com "rosacruz".
No grau secreto de Réau-Croix, o iniciado é posto em contato com o Mundo do Mais Além (as Esferas dos Poderes Celestiais) mediante a Alta Magia, ou Teurgia. Evoca os Poderes Celestiais na Aura da Terra. Manifestações auditivas e visuais capacitam ao Réau-Croix avaliar sua própria evolução (e a de outros evocadores) e ver se ele (ou eles) foi reintegrado em seus poderes original.
O grau secreto "desconhecido" de Grande Réau-Croix se supunha que era a permissão para a Prova Suprema da Ordem, a nunca alcançada "operação final" que era a evocação de "Cristo Glorioso", o Reparador, Adam Kadmon Reintegrado.
Tenhamos em conta que os Graus de Portal estavam separados de os Graus Simbólicos pelo Grau de Grande Eleito ou Mestre Particular. Este foi o que seria conhecido como "grau de vingança" no qual os votos de segredo são renovados em uma cerimônia realizada para ter o poder mágico de dar castigo ao que renuncie à sua obrigação.
Antes de sua morte, Martinez de Pasquallys havia nomeado como seu sucessor a seu primo Armand Cagnet de Lestère, Secretário Geral do Exército em Port-au-Prince, Haiti. Esse Irmão tinha pouquíssimo tempo para dedicar-se à Ordem e somente podia supervisionar os Templos Cohen de Port-au-Prince e Léogane em Haiti. Ocorreram divisões entre os Templos na Europa. A.C. de Lèstere morreu em 1778 depois de haver transmitido seus poderes ao V.P.M. Sebastian de las Casas. Este novo Grão-Mestre não intentou reconciliar os diferentes ramos dos Elus-Cohen nem unificar o Rito. Pouco a pouco, os Templos Elus-Cohen foram se fechando.
A Doutrina continuou sendo transmitida, sem embargo, de pessoa a pessoa ou dentro dos "Aeropagoi" Cabalísticos compostos por nove membros. Em 1806, "operações" seguiam sendo feitas nas datas de equinócios. Um dos últimos representantes diretos dos Elus-Cohen foi o Venerável Mestre Destigny que morreu em 1868.
Muitos dos discípulos de Martinez se distinguiram por seus escritos, tais como o Barão d'Holbach, que escreveu "O Sistema da Natureza", o erudito hebreu e cabalista Duchanteau que é o autor do "Calendário Mágico"; Jacques Cazotte, famoso autor do "Demônio Enamorado"; Bacon de la Chevalerie; Jean Baptiste Willermoz que desempenhou um papel muito importante na Maçonaria; e o célebre "Filósofo Desconhecido" Louis-Claude de Saint-Martin.
Antes que a Ordem dos Elus-Cohen perdesse sua vitalidade, dois eminentes membros preservaram a doutrina original: o primeiro, Jean-Baptiste Willermoz, integrando-a com alguns Ritos da Maçonaria; o outro, Louis Claude de Saint-Martin, incorporando-a um sistema modificado de filosofia perpetuado por iniciações pessoais.

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