domingo, 2 de agosto de 2009

Especial: Admirável Mundo Novo.

Especial: Admirável Mundo Novo.

Por Miguel Monte.

Rondônia, especialmente sua capital Porto Velho, enfrenta atualmente um processo sociológico semelhante, ou até superior, ao estrondo industrial da anterior eclosão econômica da borracha e da ascensão do segmento econômico relativo ao ouro extraído dos garimpos rondonienses. Por sua vez, na missão em manter os empregos gerados a partir deste boom econômico, interligados exclusivamente à região rondoniense, as autoridades conectadas às áreas sociais arregimentaram acordos entre as partes envolvidas, que resultaram realmente em empregos para os milhares de rondonienses.
Contudo, os veículos de comunicação de outros estados brasileiros, soaram o sino da bazófia empregatícia que atualmente Rondônia ostenta, e aguçaram aos patrícios desempregados o ímpeto do nômade que existe em todos os brasileiros, no objetivo da sempre sonhada: vidas melhores; E não é por menos, quando se anunciam que em Rondônia empresas multinacionais como MaKro, Americanas, C&A, Renner, Odebrecht, dentre outras, estão contratando pessoas dos “serviços gerais a engenheiros”; o frenesi é um só! A título de parâmetro, a Prefeitura de São Paulo abriu vagas para gari no ano passado, e advogados e profissionais com cursos superiores em diversas áreas, se candidataram ao cargo para faturar mensalmente cerca de R$ 900,00, mais “vale transporte” e alimentação e ainda plano de saúde.
Na visão regional, segundo técnicos ouvidos pela reportagem, é louvável tornar os empregos exclusivamente criados aos que em Rondônia lutaram até então por vidas melhores, porém, no contexto federal, cria-se uma lacuna de perversidade social, onde o desempregado viaja apenas com a passagem de ida, consumindo geralmente farinha e carne seca, e degustando a água doada pelas empresas de ônibus. Chegando ao destino final, no caso, em Porto Velho, capital de Rondônia, o sonho de uma mega-sena vira pesadelo na mesma proporção em que se depara com a arquitetura da Rodoviária da cidade, onde falta de recepção turística - por quem de direito - e a falta de simples informações aos que delas precisam, tornam a vida do viajante um verdadeiro terror.
Geane Menezes é professora em Teresópolis, no Rio de Janeiro, e viaja para divulgar sua filosofia gnóstica, ao mesmo tempo em que irá educar o futuro do norte brasileiro, através de um emprego de professora primária que conquistou na região. Em parte contrária, Irene Amaral está sediada comercialmente na Rodoviária de Porto Velho desde 1982, e entre um cafezinho e outro ajuda as pessoas com informações importantes, como lugares certos onde recebem currículos e até mesmo os endereços de albergues municipais; que neste caso, a simpatia de Cilene Fernandes, recepcionista do setor social da Prefeitura de Porto Velho, com um stand na Rodoviária, não é suficiente para apaziguar a agonia dos viajantes.
A agonia começa no preenchimento da ficha cadastral do viajante, que pode permanecer no albergue público por até cinco dias, e não pode fumar nem beber, nem chegar tarde. A dificuldade maior ainda é para encontrar o abrigo, que está sediado na Rua 10, no bairro Agenor de Carvalho, região Leste de Porto Velho, e pior ainda é para falar com uma das assistentes sociais do município, que estão escondidas na Rua: Geraldo Ferreira, Nº 135, no Bairro Jardim das Mangueiras; Para quem aporta em Porto Velho com a roupa do corpo e o currículo na mão, o sofrimento se torna maior que o desemprego eloqüente de onde partira.
Guardando bolsas, malas e até colchão velho, José Wilson diz que diversas pessoas estão chegando para trabalhar em Porto Velho, mas como não têm lugar para ficar, residem ali mesmo na Rodoviária; e à noite viciados utilizam o local para consumirem drogas e depois fazem algazarras com os transeuntes. A fiscalização municipal resume-se apenas a dois profissionais que vinculam suas diárias apenas a registros de cobranças de taxas e embarques e desembarques de ônibus. A polícia militar, que poderia coibir estes atos, não é encontrada no local e nem tão pouco existe ali um Box deste órgão repressor; aumentando assim a insegurança. Por outro lado, os taxistas disputam clientes com as empresas de ônibus: destino principal é a cidade vizinha de Jaci Paraná onde transportam os migrantes para “arrumarem empregos”.
Cidade Lotada
Após cinco dias de albergue gratuito, não encontrando o emprego, o cidadão sem recursos dá início aos problemas crônicos de todas as grandes cidades: A superlotação das vias urbanas, onde a moradia mais próxima será uma praça ou um prédio abandonado.
A partir daí será um passo só para a marginalidade, a prostituição e o subemprego.
Turismo?
Porto Velho se orgulha de seu povo ordeiro, de praças magníficas e de obras arquitetônicas confeccionadas no início do século XX, que relembram o clima europeu; ainda mostra aos seus turistas a nova cidade com arquitetura moderna, e diversas formas de entretenimentos como shopping, hotéis, bares e ainda em pouco tempo será entregue a população um moderníssimo teatro, além de oferecer diversas lojas especializadas em roupas finas, comidas típicas e um filão do momento: O Ecoturismo. Tudo para o turista passar momentos especiais.
Da mesma forma não se pode evocar beneficamente o jargão: A primeira imagem é a que fica; quando o turista coloca os pés em terras portovelhenses a partir da Rodoviária, com sua arquitetura horripilante. Por outro lado, a Prefeitura de Porto Velho já licita uma nova Rodoviária, mas, esbarra no oneroso preço do empreendimento resultando na falta de interesse dos maiores empreiteiros brasileiros.
Silêncio sepulcral
Procurados para se manifestar a respeito do assunto, a equipe que forma a assessoria de comunicação da Prefeitura de Porto Velho não foi encontrada.

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