quinta-feira, 18 de junho de 2009

UM MISTÉRIO CHAMADO DOM MARTINEZ DE PASQUALY E SEU ELUS COHEM

UM MISTÉRIO CHAMADO DOM MARTINEZ DE PASQUALY E SEU ELUS COHEM
Dentre todas as escolas de mistério, uma das que mais gera curiosidade, pesquisa e devoção é sem dúvidas os Sacerdotes Eleitos do Universo, ou se preferirem Elus Cohem. Tentar então descobrir sua origem, sua herança e seu legado torna-se uma missão apaixonante. Para descobrir o véu que envolve esta Ordem, é necessário vislumbrar com um pouco mais de cuidado seu principal personagem, Dom Martinez de Pasqualy, este talvez um mistério ainda maior do que a Ordem que ele fundou.
Já foi suficientemente discutido a nacionalidade de Pasqualy. Alguns como, por exemplo, Manuel J. Granda, o julgam Português, já René Guénon o qualifica como Francês e finalmente Van Rijnberg crê em sua nacionalidade Espanhola. Fundamentalmente este particular pouco importa, teríamos que nos ater em minúcias de apelidos, diferentes formas de escrita, afiliação, estórias e a bem da verdade jamais saberíamos a realidade. Uma questão, entretanto é digna de ser dissecada, afinal de contas Pasqualy era Cristão ou Judeu ?
A este particular vamos dedicar algumas linhas.
Toda a coerência de Pasqualy repousa em ensinamentos do velho testamento e voltada à ótica Judaica, entretanto quando de sua partida para San Domingos , foi expedido um "certificado de catolicidade" o que ratifica sua devoção à Igreja Católica Cristã, além do contrato de seu casamento realizado com documentação cristã, desta forma materialmente falando, poderíamos afirmar que Pasqualy era Católico Cristão certo?.....Talvez, Franz Von Baader é da opinião de que Pasqualy havia sido tanto judeu como cristão, seria ele então um judeu convertido a cristão novo? Existe ainda uma narrativa muito interessante e estranha: Saint-Martin, em seu livro "Le Crocodile", apresenta certo "judeu espanhol" de nome Eleazar, ao qual atribui de maneira clara e até evidente demais, muitas das características de seu primeiro mestre Pasqualy. Descrevendo por alguns instantes a narrativa apresentada por Saint-Martin neste livro, o autor explica as razões pelas quais o judeu Eleazar havia sido obrigado a abandonar a Espanha e refugiar-se na França: "Em Madri tinha um amigo cristão que formava parte da família de Las Casas. Depois de haver logrado certa prosperidade em uma atividade comercial, se viu repentinamente alcançado por uma bancarrota fraudulenta que o deixou na mais completa miséria.
" Imediatamente acudi a seu lado, a compartilhar sua desgraça e oferecer-lhe os escassos recursos de que minha medíocre fortuna me permitia dispor. Porém como tais recursos eram insignificantes para sanear os negócios, cedi ante a amizade que a ele me unia e, deixando-me transportar por tal sentimento, e munido de certos meios particulares que me ajudaram muito prontamente a descobrir a fraude de seus exploradores, e inclusive o esconderijo onde se haviam depositado todos aqueles bens que lhe haviam subtraído. Por iguais meios procurei a possibilidade de recuperar todos seus tesouros e a disponibilidade dos mesmos, sem que aqueles que os haviam subtraído suspeitaram sequer que alguém os havia recuperado. Sem dúvida foi um erro utilizar ditos meios para lograr semelhante finalidade, posto que os mesmos não devem aplicar-se mais que à administração de assuntos que nada tem a ver com as riquezas deste mundo. Em conseqüência, recebi escarmento. Meu amigo, educado em uma fé tímida e receosa, suspeitou que quanto eu havia feito por ele se devia a sortilégios. Seu fervor religioso triunfou sobre seu agradecimento, assim como minha diligência em ajudá-lo havia triunfado sobre o meu dever. Me denunciou assim a sua Igreja simultaneamente como feiticeiro e como judeu. Os inquisidores foram advertidos imediatamente; me condenam à fogueira ainda antes de arrastar-me, mas no mesmo momento em que decidem minha captura, recebo aviso, pelos mesmos meios particulares, da sorte que me espera, e sem demora busco refúgio em vossa pátria." (Le Crocodile, 23).
Esta narrativa se torna muito próxima de alguns fatos conhecidos da vida de Pasqualy : no único documento autêntico conhecido sobre o nome completo de Pasqualy que foi aliás publicado por Papus é a certidão de nascimento , a exata grafia : Jacques Delivon Joacin Latour de La Case, Don Martinez de Pasqually", nota-se La Case "afrancesado" ou Las Casas em Espanhol, é muito parecido com o nome da família cristã amiga do judeu Eleazar. A discussão ainda pode ir longe pois muitos afirmam que Pasqualy era judeu; entretanto com certeza não o era da ótica religiosa, uma vez que está mais ou menos comprovado que ele era católico, ou na pior das hipóteses queria que as pessoas assim o reconhecessem.
Pois já que documentalmente afirma-se que Pasqualy era Cristão, o que certamente esta afirmação não quer dizer que a sua raça não seja semita, de onde vieram seus conhecimentos, sua tradição e sua iniciação?
A única informação que nos poderia indicar a verdade é a possibilidade de que Pasqualy tenha realizado algumas viagens antes do inicio de suas atividades iniciáticas na França e que tenha recebido nestas ocasiões seu conhecimento e sua tradição. Desaponto o caro leitor sobre este particular, pois não se tem informações precisas sobre por onde e quando Pasqualy viajou, há afirmação desencontradas de que ele haveria estado no Oriente , van Rijnberk crê poder confirmar esta tese em uma passagem do Tratado da Reintegração dos Seres, onde Pasqualy parece dizer que tenha estado na China, porém esta jornada se é que existiu , poderia ser corroborada por uma carta de Pasqualy onde se encontra a frase: "Meu estado e minha qualidade de homem verdadeiro me mantém sempre na posição que ocupo" (extrato publicado por Papus). Esta frase, que é especificamente taoísta, é por outro lado a única deste tipo utilizado por Pasqualy. Por outro angulo, quando ele fala da China, não se pode tomar em sentido literal, pois como afirmou Le Forestier, Pasqualy emprega a palavra "chino" como uma espécie de anagrama de "Noaquita" ou "Noachita", termo muito utilizado pelos Maçons do Rito Escocês e principalmente dos Ritos Adonhiramita e de Misrain, e que quer dizer descendentes de Noé ou os que seguiram os preceitos que o Senhor dera a Noé, na ocasião em que Este deixara a Arca da Aliança.
Cronologicamente falando Pasqualy não pode viajar muito, pois se é verdade que nasceu até 1727, suas viagens não puderam alongar-se por muitos anos, porque sua atividade iniciática conhecida começa em 1754, nesta ocasião tinha apenas com 27 anos . Devemos então nos adiantarmos em nossas pesquisas. O Príncipe Christian de Hesse-Darmstadt afirmou que: "Pasqualy assegurava que seus conhecimentos provinham do Oriente, Porém é presumível que os tinha recebido da África", na África ??? presume-se então que deveria ser a África mais próxima da península Ibérica ou mais precisamente, dos povos que conheciam a cultura ibérica especialmente espanhola e com certa tradição esotérica antiga. Não poderiam ser outros que serão os judeus sefardíes, que se estabeleceram na África do norte depois da sua expulsão da Espanha . Esta informação nos serve para explicar muitas coisas: em primeiro lugar, a influencia dos elementos judaicos na doutrina de Pasqualy; explicando-se então as relações que demonstra ter mantido com os judeus, também sefardíes, de Burdeos, assim anteriormente citado por Saint Martin na apresentação de Eleazar como um "judeu espanhol" ; derradeiramente, a necessidade que teve, com vistas ao trabalho iniciático que devia desenvolver-se num ambiente não judeu, de "agregar" a doutrina recebida de tal fonte sobre uma forma iniciática propagada pelo mundo ocidental e que, no século XVIII, não podia ser mais que a Maçonaria. O que devemos ter em mente é o fato de que Martinez jamais mencionou a origem exata de seus conhecimentos, e que se refira vagamente ao "Oriente" . Naquelas circunstancias em que se encerrava a conjuntura européia não se podia transmitir a iniciação tal qual a havia recebido e não devia revelar sua origem. Certamente nos livros de que tenho conhecimento Pasqualy não fez alusão clara de quem recebera seus conhecimentos limitando-se a confirmar apenas o recebimento da tradição : "Nunca tentei induzir ninguém ao erro, nem tampouco enganar a pessoas que de boa fé se acercaram a mím para assimilar os conhecimentos que me transmitiram meus predecessores". Citado por Papus, Martinez de Pasqually, pág. 122.
O que podemos afirmar com certeza, já imersos num mar de incertezas, é que a iniciação recebida por Pasqualy não era aquela da Ordem dos Eleitos Cohen, logicamente porque não existia Elus Cohem antes de Martinez de Pasqualy.
Podemos então acreditar na tese de René Guenon de que Pasqualy havia recebido a "missão" de parte de alguma organização iniciática não perfeitamente identificada, ou como pode ser que sua Ordem não haja estado de algum modo totalmente estruturada desde o começo, com seus rituais e graus, e que de fato não tenha podido superar jamais o estado de esboço imperfeito, sem incluir nada definitivamente estável a ponto de seus mais próximos secretários Saint-Martin e Willermoz não conseguirem dar seqüência à obra de seu Mestre ! Seja como for o que deve ser importante para todos os Martinistas modernos é sua raiz , sua tradição que remonta à Pasqualy, a Saint-Martin e também a Willermoz, senão vejamos : As duas letras que ainda hoje são a única assinatura de um verdadeiro Martinista, qualquer que seja a sua interpretação , exerceu e exerce uma verdadeira fascinação ao mundo profano; e não é necessário ir muito longe para saber sua origem, principalmente quando alguns Eleitos Cohen usavam estas iniciais em sua própria assinatura. Novamente Van Rijnberk formula uma hipótese muito aceitável, segundo a qual estas duas letras haviam sido o signo distintivo do "Soberano Tribunal" encarregado da administração da Ordem e da qual tomavam parte Saint-Martin e também Willermoz, curiosamente não havia neste signo um significado de grau e sim uma função, uma obrigação, um trabalho. Esta informação deve ser especial e cuidadosamente estudada pelos Martinistas. Poderia parecer estranho que Saint-Martin tenha eleito tais iniciais em vez de, por exemplo, R.C de Réaux-Croix., a não ser que houvessem contidos em si algum significado simbólico próprio. Como quer que seja, é um fato curioso, que demonstra que efetivamente Saint-Martin lhes atribuía uma certa importância, e é que em seu "Le Crocodile" formou com essas iniciais a denominação de uma imaginaria "Sociedade dos Independentes", que por outro lado não é verdadeiramente uma sociedade nem tampouco uma organização qualquer, e sim uma espécie de comunidade mística presidida por Madame Jof, quer dizer, pela Fé personificada . Uma outra coisa digna de citação é que até o final da história, um judeu, o nosso conhecido Eleazar, foi admitido nesta "Sociedade dos Independentes". Sem dúvida pode encontrar-se ali uma citação, não a Pasqualy pessoalmente, mas sim à passagem de Saint-Martin pela doutrina dos Eleitos Cohen e seu misticismo. Quando se comunica a um membro qualificado o significado destas iniciais, como uma espécie de sinal de reconhecimento, ou melhor como um legado , não quer dizer de forma alguma que este pode considerar-se membro de um grupo com privilégios e prerrogativas, muito se enganam os que assim pensam. A senda é aberta, infinita e gloriosa porém somente aos que a percebem e sentem no coração.

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